Por Mariana Guerin
A sétima edição do Simpósio de Produção Animal da ExpoLondrina debateu na manhã desta quarta-feira (9) como a precocidade sexual de machos e fêmeas pode incrementar o melhoramento genético do rebanho. Também foi apresentado um aplicativo gratuito para exame andrológico em bovinos desenvolvido pela Embrapa Gado de Corte.
Na palestra de abertura, Maury Dorta de Sousa Júnior, coordenador do programa Embrapa Geneplus de Melhoramento Genético, de Campo Grande (MS), falou sobre o aspecto prático da precocidade sexual em fêmeas tanto do ponto de vista do programa de melhoramento, como da produtividade.
“É um tema com dois enfoques possíveis. A precocidade sexual em fêmeas é algo que tem sido bastante explorado na pecuária de corte, principalmente na raça Nelore. Tem muita gente preconizando e é algo que deve ser buscado realmente, mas é um caminho que exige muitos cuidados. Não é para todo mundo. É diferente de acordo com cada objetivo e isso precisa ser discutido”, diz o pesquisador.
Segundo ele, existem práticas para a seleção de fêmeas com precocidade sexual que teriam um benefício muito maior como, por exemplo, expor todas as fêmeas aos touros num grupo contemporâneo, independente da diferença de peso, de forma natural, sem indução de cio e sem inseminação. “Esse seria o cenário ideal do ponto de vista de melhoramento genético para, de fato, identificar e selecionar as fêmeas mais precoces.”
“Só que do ponto de vista de produção, essa é de longe a pior estratégia a ser adotada. Então, tem uma encruzilhada que precisa ser decidida, de acordo com o objetivo do produtor”, avalia o coordenador.
Ele explica que os criadores têm selecionado as fêmeas mais pesadas e mais velhas do lote, induzido o cio de forma artificial, de acordo com um protocolo hormonal, e inseminado essas fêmeas uma, duas e até três vezes. Isso tem uma série de implicações, como a confusão no processo de seleção e o aumento nos custos.
“Tem muita gente que faz essa queixa do custo dessa alternativa. E, de fato, custa mais mesmo, então esse é um dos principais problemas que a gente tem hoje. O protocolo de inseminação já existe e está bem estabelecido, o que a gente precisa discutir é qual é o objetivo do criador”, reforça o pesquisador.
Ele destaca que é o objetivo que vai determinar qual estratégia usar a depender de onde o produtor está, de qual é o manejo e de qual genética ele tem na propriedade. “É um assunto bastante complexo e não pode ser tratado de uma forma simples. Tem que ser tratado de um aspecto prático.”
“O pessoal que está mais diretamente ligado à reprodução defende a questão de indução hormonal, de uma, duas, três IATF e está tudo certo, a depender do objetivo do criador. E o criador, às vezes, não consegue compreender isso, o aspecto prático. Qual seu perfil como criador, o que ele tem e para onde ele quer ir é o que ele precisa ter na cabeça antes de tomar decisões”, conclui o pesquisador.
Na segunda palestra da manhã, a médica veterinária Juliana Correia Borges Silva, pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, conversou com o público sobre a precocidade sexual do macho. “Toda a programação do simpósio foi pensada para abordar o melhoramento genético mais rápido. Se a gente fala de precocidade, a gente fala em utilizar tanto o macho quanto a fêmea que já estão na fazenda, mas não são utilizados. Descobrindo esses animais que já podem ser usados, o produtor consegue diminuir o intervalo de gerações e deixar descendentes de qualidade na propriedade”, avalia.
Ela apresentou estudos sobre o uso da precocidade sexual do macho, que ainda é recente em comparação à precocidade das fêmeas. “Temos feito estudos para gerar uma DEP, que é a uma diferença esperada de progênie, para essa precocidade do macho e como escolher esse touro jovem.”
Ela conta que dos touros entre 12 e 18 meses, que já estão aptos para coleta de sêmen e cobertura de fêmeas, é possível utilizar o sêmen refrigerado. “Ao invés de congelar, você deixa o sêmen a 5 graus Celsius e usa com 24 horas. Eu faço a coleta hoje e tenho a ITF amanhã. E esse touro que o produtor só iria utilizar no próximo ano, já está deixando descendentes na propriedade.”
A vantagem, na opinião da pesquisadora, é que hoje, com a avaliação genômica, principalmente de rebanhos que fazem a seleção genética, é possível identificar esses touros precoces e usá-los um ano antes. “O intervalo de geração diminui, que é uma vantagem muito grande, e quando esse touro se provar como um touro que vai ser usado em outro rebanho, o produtor já tem na sua propriedade os descendentes dele.”
Juliana lembra que a vida útil de um touro no campo pode chegar a sete anos, mas para um doador de sêmen é diferente. “Nesses estudos estamos falando de tudo junto. A gente está tentando selecionar esse touro que pode ser usado na monta natural, mas que pode vir a ser um doador de sêmen de uma central. A gente está utilizando ele antes.”
“Quando falamos de melhoramento genético, a geração nova deve ser melhor que a antiga, então, o touro não deve ser doador por muito tempo. Trabalhar a precocidade sexual não é para a vida útil dele ser maior, é para a gente utilizar ele antes”, completa Juliana, reforçando que com o melhoramento é possível diminuir o intervalo de geração e deixar melhores descendentes.
Ela assinala que o uso do sêmen refrigerado já está acontecendo nas propriedades. “É mais a prestação de serviço de um veterinário que tenha qualificação para fazer e o produtor que queira e que tenha um rebanho selecionado porque a gente tem que usar o sêmen de touros que já foram pré-selecionados por uma genômica”, detalha a pesquisadora.
App para exame andrológico
Ainda durante o simpósio foi apresentado um aplicativo gratuito para exame andrológico em bovinos que a Embrapa Gado de Corte desenvolve desde 2022 e que foi lançado em março desde ano. O app é o primeiro do gênero no Brasil e no mundo.
“Você faz tudo no aplicativo e para o veterinário entregar o laudo para o produtor é muito mais fácil. Hoje, o veterinário vai a campo, coleta e avalia o sêmen e coloca os dados numa planilha. No laboratório, ele faz a morfologia de uma amostra do sêmen e, ao final, a planilha gera um laudo que é entregue ao produtor. Já com o aplicativo, o veterinário realiza todas essas etapas de produção do laudo direto na plataforma, que também pode ser acessada pelo produtor. É uma ferramenta gratuita para o veterinário e para o produtor”, destaca a veterinária Juliana Silva, da Embrapa Gado de Corte.
Foto: Leonardo Orcini