Por Tatiane Salvático
Na tarde desta quarta-feira (8), um seminário realizado no Recinto Milton Alcover reuniu dezenas de cotonicultores para discutir estratégias e incentivo da cultura do algodão no estado do Paraná. “Estamos em um momento considerado como a retomada do algodão no Brasil. Isso é ainda mais acentuado no Paraná, que sofreu fortemente com a infestação do bicudo-do-algodoeiro, ali por volta de 1997, e que levou a um declínio da cultura do algodão e abriu espaço para a expansão da soja no estado”, lembrou Marco Porto Carreiro, diretor-executivo da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa). Há quase 35 anos, na safra 1991/92, o Paraná era considerado o maior produtor de algodão do Brasil, com 709 mil hectares cultivados, o equivalente a 36% da área nacional.
Presente no evento, o presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP), Marcelo Janene El-Kadre, lembrou que sua primeira atividade profissional foi como cotonicultor até a chegada do bicudo no Paraná. “Quando comecei não tinha muita experiência, mas contei com o apoio de uma engenheira agrônoma e, mais tarde, de um produtor apaixonado pela cultura do algodão. Era outra época. Hoje as coisas mudaram muito, existe muita tecnologia, muito mais rentabilidade. Por isso que um evento como este é tão importante. É a oportunidade de atualização, de entenderem este novo momento e melhorarem sua rentabilidade. Quem sabe até de voltarem ou começarem a plantar algodão. ”
Cotonicultura para exportação
Desde a safra 2023/2024 o Brasil se tornou o maior produtor e exportador de algodão do mundo, ultrapassando os Estados Unidos, que liderava o ranking há alguns anos. Apesar do marco, a tendência é que os países alternem a liderança nos próximos anos, conforme as condições climáticas. A liderança brasileira se deve graças à tecnologia desenvolvida no Centro-Oeste, especialmente no Mato Grosso, responsável por 73% da produção nacional. “O estado reúne características ideais como chuvas regulares no plantio e seca na colheita, além de topografia plana perfeitas para a cotonicultura”, explica o diretor da Abrapa.
No entanto, ele destaca que as pesquisas da Embrapa avançam para criar condições propícias para os demais estados e, também, para tornar toda a cadeia do algodão ainda mais produtiva e sustentável. “Só vamos conquistar determinados mercados e nos manter nesses mercados se conquistarmos excelência em qualidade. ” Ele salienta que em parceria com a Embrapa, a Abrapa desenvolve projetos de redução de emissão de carbono, melhoramento genético, aumento de produtos biológicos, melhoramento da qualidade de água e solo.
“Já conquistamos alguma excelência em qualidade como a rastreabilidade de todos os fardos de algodão. Algumas marcas nacionais bastante conhecidas como Renner, Riachuelo e Reserva tem isso na etiqueta das roupas. Se você procurar, encontra um QR Code que mostra informações detalhadas do cotonicultor que colaboração da produção daquela peça. ”
O algodão brasileiro sustentável e rastreável também está presente em blends de tecidos de algodão chineses, vietnamitas, paquistaneses e até mesmo no famoso algodão egípcio. “O nosso algodão em pluma é utilizado para elevar a qualidade do material confeccionado nesses locais. É comum que grandes marcas do varejo mundial se instalem nesses países que ainda têm mão-de-obra barata, mas elas prezam por um material de boa qualidade. ”
Paraná pronto para retomar a cultura do algodão
Depois de quase três décadas do declínio da cotonicultura paranaense, especialistas defendem que o estado tem características únicas que podem incentivar os agricultores a retomarem ou a iniciarem a cultura em suas propriedades. É o caso de Eleusio Freire, diretor da Cotton Consultoria, que ministrou a palestra “Paraná: variedades, controle de pragas e doenças, ervas daninhas, colheitas e transporte” durante o seminário desta quarta-feira (8).
Segundo Freire, hoje a maioria das propriedades que cultiva algodão no Paraná é de 25 a 50 alqueires, muito pequenas se comparadas ao tamanho das do Centro-Oeste. “Quem planta algodão no cerrado hoje é, majoritariamente, gente que saiu do Paraná, Santa Catarina e até mesmo Rio Grande do Sul após a infestação de bicudo no final da década de 1990. Atualmente, pelo custo da terra e em relação à produtividade, não compensa ir para lá. Então, invistam em conhecimento, se atualizem, produzam aqui. O Paraná está pronto para voltar a produzir algodão em larga escala. ”
O diretor da Cotton Consultoria exalta que por conta de questões climáticas somente o Paraná e o estado de São Paulo colhem algodão em abril, época em que existe uma falta de matéria-prima na indústria nacional. O Centro-Oeste e parte do Nordeste só colhem no final de julho e agosto. “Outra vantagem em relação ao Centro-Oeste é que o estado já lidou com o bicudo anteriormente. Então, agora, o plantio do algodão na maioria das regiões do Paraná exige menos fungicida. Outra coisa, o estado está logisticamente muito bem localizado, perto das indústrias têxteis e próximos de três importantes portos: Paranaguá, Santos e Itajaí.”
Ao finalizar a palestra, Elusio Freire reforçou ainda que a lucratividade do algodão nas últimas safras foi muito próxima à soja. “Então, se você plantou nas últimas seis safras soja e quer variar as suas culturas ou deseja começar algo novo, asseguro que o algodão é uma excelente opção. A Embrapa, o IDR, a Abrapa e UEM têm excelentes pesquisas e dão apoio para o produtor paranaense interessado na cotonicultura. É algo muito promissor e com muito mercado ainda a ser explorado”, assegurou.
Foto: Ricardo Maia